sexta-feira, 22 de maio de 2009

Crônicas de Um Preguiçoso

Existe dia pior que a segunda-feira? Você já vai trabalhar cansado, freio de mão puxado, pegando no tombo. Domingo, quando a tarde vai caindo, eu já estou dormindo acordado. Se fosse candidato a presidente eu proporia o fim do expediente de segunda, pois tudo que é de segunda, pode ter certeza, não presta.

Agora, veja só que festa, que beleza de Creuza: quatro dias pegando no duro e, depois, três dias só na moleza, na maciota - sombra, rede e água de coco. Ainda assim, neguinho vai dizer que só vota em mim se eu também propor dois meses de férias, vinte folgas e as licenças namoro e amizade (antes das licenças paternidade, casamento e maternidade). Tenha santa paciência! Aí também já é demais, gente!. Não se compra mais voto como antigamente (e a eleitor comprado olham-se os dentes?).

O melhor dia da semana é a … quinta-feira. Só porque está longe da segunda e pertinho da sexta… e só de pensar na sexta já dá excitação e ansiedade. Impossível não pensar na cerveja estupidamente gelada. A sexta é a sexta maravilha desse mundo, é hour concurs, é dia santo. Um amigo meu, sempre quando batia o ponto, dizia cinicamente: “Hoje é sexta: só trabalha quem é besta”.

A sexta é tão boa que é sinônimo de vários predicados mundanos: amante, barregã, manceba, muruxaba, rapariga e concubina. É o que nos ensina o Aurélio, o pai dos burros (e se Aurélio é o pai, Houaiss é o quê - tio, avô?). “As reuniões da maçonaria são às sextas, mas em vez de irem às lojas, os homens vão é às casas de suas teúdas e manteúdas. Daí a gente chamar essas mulheres de sexta-feira” (Mário da Silva Brito, em “Conversa Vai, Conversa Vem”).

Já o domingo, que é véspera da segunda, literalmente é um dia inútil. Tenha ou não missa, praia ou futebol, domingo é um dia que não cheira nem fede. Quando não se exaure no ganha-e-perde do futebol, o domingo se acaba logo ao pôr-do-sol. É o dia mais curto da semana: acorda-se tarde e dorme-se cedo. A tarde cai, o dia vai…

Diz-se que o trabalho dignifica o homem, mas todo mundo vive sonhando com as férias, planejando a aposentadoria, aguardando um feriado prolongado, uma licencinha remunerada. Ah!, eu me sentiria realizado na vida se achasse uma mecena para bancar minha literatice de segunda! Não me importaria se fosse rotulado gigolô de letras ocultas.

E se você pensa que os caminhoneiros amam o trabalho, você “está viajando na maionese”. Veja o que eu li em pára-choques de caminhões: “Um péssimo dia de pescaria é melhor que um ótimo dia de trabalho”. Outro: “Preguiça é o hábito de descansar antes de estar cansado”. E mais: “Trabalhar para patrão pobre é pedir esmola para dois”.

Pois é, eu queria que o mundo se acabasse em barranco… para eu morrer encostado! Mas se meu chefe ler essa crônica, acho que vou é ser colocado no olho da rua - para aprender a não escrever besteiras, inutilidades, coisas que não levam a lugar algum. E lá na empresa onde trabalho, é certo, quem vai me dar o cartão vermelho será um desses caras que odeiam a segunda, mas fingem amá-la, venerá-la, idolatrá-la.

Eu tinha um vizinho que, aquele sim, amava o trampo. Era “pau para toda obra”, um cidadão que, enquanto descansava, carregava pedras. Tanto era assim que passou a própria noite nupcial sozinho no escritório, trabalhando - enquanto a mulher estava em pleno gozo da lua-de-mel, num pedaço de céu. Também, pudera!, o cara foi se casar logo numa segunda-feira! Só podia ser um casamento de segunda (não foi amor à primeira vista).

Para encerrar essa apologia à preguiça, uma piada mais velha que a posição de andar para frente: numa segunda, um cara apareceu num lugar onde estavam oferecendo emprego. O suposto candidato chegou lá se espreguiçando, esticando os braços e falando pausadamente: ” É… a-qui…. que… es-tão… o-fe-re-cen-do… um… em-pre-go…?”

O responsável pelo recrutamento, admirado com a “disposição” daquele cara-de-pau, de imediato questionou: “O senhor tem certeza de que quer o emprego mesmo?” E o preguiçoso - esticando os braços e bocejando - respondeu com a maior naturalidade deste mundo: “Não…é… pra… mim… não… É… pro…meu… ir-mão… que… fi-cou… em… ca-sa… dor-min-do…” .

Crônicas de Um Preguiçoso - (14-01-2003) - por Marcelo Torres

2 comentários:

Déia disse...

Muiiito bom !!! Adorei...mas me deu uma preguiça, acho q vou tirar um cochilo kkkk

Milena disse...

Nossa! Eu concordo... domingo é uma coisa... é o que falam... escutar a musiquinha do fantástico é tristeza...!!!kkkk